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Como escrever um Roteiro de Cinema (ou Audiovisual)? | Dicas e como é o meu processo de escrita

Oi, gente. Hoje eu vim falar um pouco do meu processo para a escrita de roteiros.

Em diversos lugares você vai ouvir dizer que um roteiro é escrito em etapas. Essas etapas não são regras, são sugestões pensadas para facilitar, mas também é possível pular algumas ou fazer fora de ordem.

Logline, storyline, argumento, escaleta, roteiro. Essa é a ordem que normalmente é recomendado seguir.

Mas não é bem assim que eu, pessoalmente faço, na prática. Principalmente, guiada pelo fato que eu tenha ideias em pedaços. Assim como na escrita dos meus livros, eu gosto de planejar um pouquinho, escrever um pouquinho e assim sucessivamente, dividindo todo o processo em blocos. Talvez isso faça com que o meu processo seja um pouco mais demorado, mas é o que funciona para mim.

A IDEIA

Primeiro eu tenho a ideia que é basicamente só uma premissa do que eu quero desenvolver.

Inventei uma historinha com o propósito de usar como exemplo:

Não é exatamente uma logline porque não tenho ainda meu conflito e meu adversário. É exatamente por esse motivo que não posso desenvolver também minha storyline já que não faço a menor ideia de qual será minha resolução ainda.

Por isso, depois da ideia eu jogo todas as informações que pensei sobre a história numa folha de brainstorming. É importante, principalmente, conhecer melhor os personagens, se não, a história não anda já que faltam várias pernas que a sustente ainda.

ARGUMENTO

O Argumento é onde o roteiro se desenvolve, onde toda a história é escrita (sem os diálogos e sem indicações de lugar e dia). É como se fosse um livro, descrevendo a história de forma visual. É uma etapa importante e, se você for tentar vender sua história, é um documento essencial que alguns produtores podem te pedir. Um edital com certeza vai te pedir.

Mas eu pulo essa etapa também.

BEAT SHEET

Antes de escrever o argumento, eu escrevo um beat sheet, que é uma lista resumidas de todas as cenas. Tudo que for ação e reação é considerado um beat.

Para mim é importante, enumerar antes de desenvolver.

Vamos supor que seja o roteiro de um curta, o primeiro bloco do meu beat sheet seria assim:

ESCALETA

Depois do argumento, temos a escaleta que, acompanhada do cabeçalho indicando lugar e hora, detalha mais as ações dos personagens. Lembrando que nessa etapa os diálogos ainda não são inseridos.

E por aí vai.

Ao fim da escaleta, fica mais fácil para mim excluir os cabeçalhos e transformar o que eu escrevi em um argumento, só pelo objetivo final de ter todos as etapas documentadas mesmo.

ROTEIRO

Depois da Escaleta fica mais fácil desenvolver um roteiro propriamente dito.

DE VOLTA AO BEAT SHEET

Ao chegar a certo ponto que ainda não foi planejado, posso voltar ao beat sheet e ir adicionando novas cenas.

Para mim é mais fácil desenvolver o final da trama ao conhecer um pouco mais do personagem na prática.

ESTRUTURA DE 3 ATOS

Vale lembrar que é importante seguir certa estrutura. Dividir a trama em 3 atos, por exemplo, normalmente facilita mais a escrita da história e é um processo natural na maioria das narrativas, a não ser que você queira muito fugir do convencional. Lembrado que sua história pode ser extremamente inovadora e ainda seguir essa estrutura.

O Ato 1: apresentação;

Ato 2: confrontação;

Ato 3: resolução.

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ROTEIRO X LIVRO: 3 COISAS QUE DIFERENCIAM A ESCRITA DE ROTEIROS DA ESCRITA DE LIVROS

Para quem não sabe, eu estava cursando o quinto semestre da faculdade de cinema (O corona vírus deu uma atrasada nos planos). E assim que a gente entrou no curso, foi pedido que escrevêssemos roteiros sem nem ter tido aula de roteiro ainda. É eu sei, não faz sentido. E a primeira coisa que notei nas pessoas foi que todo mundo tentava escrever os roteiros do jeito que elas liam livros, isso porque é natural tentar imitar o que a gente já conhece a escrita. Todo mundo já leu um livro, mas poucas pessoas já leram um roteiro. Até mesmo na faculdade de cinema.

Enfim, a questão é que a diferença está não somente na estrutura, mas no jeito de escrever, no foco e função de cada um.

Eu já escrevi 6 livros, 6 curtas, 1 web série de 6 episódios e 1 longa… e meio. E eu não sou nenhuma expert no assunto e ainda tenho muito a aprender. Ainda assim vou falar as principais dicas que diferenciam um livro de um roteiro.

  1. MOSTRE, NÃO CONTE

Se você já procurou dicas de escrita você provavelmente já ouviu alguém dar o famoso conselho “show, don’t tell” “mostre, não conte”. Se isso já se aplica a literatura, imagina no roteiro. Nos livros você tem a opção de mostrar o que os personagens estão pensando, detalhar sua linguagem corporal, narrar os seus sentimentos e contar quando estão mentindo e porque estão mentindo. No roteiro nada disso é descritível, tudo tem que ser mostrado com ações. Fulano de tal não está apressado, fulano de tal está correndo. Fulano de tal não está triste, fulano de tal está chorando. Fulano de tal não está nervoso, fulano de tal está roendo as unhas. Dá pra entender? Tudo tem que ser mostrado.

2. ESTRUTURA

Na literatura escrevemos no que é chamado de prosa, no caso, se você estiver escrevendo um romance. Lembrando que romance é uma história completa de um livro e não o gênero romance. Romance pode ser fantasia, suspense, terror.

No roteiro a estrutura é toda pensada para a ação de gravar. Você precisa indicar onde a cena vai acontecer, se é num lugar externo ou interno e em que hora do dia. Quando um personagem fala, você precisa indicar quem está falando com o nome antes do diálogo. Acredito que talvez seja por isso que uma das etapas da escrita do roteiro seja o argumento, onde você pode deixar a estrutura de lado e escrever mais livremente, sem essas indicações, como se fosse realmente um livro (lembrando que digo isso apenas em termos de estrutura) e só mais tarde, na escaleta, detalhar espaço e horário nos títulos.

3. TAMANHO

Como um roteiro não descreve nem pensamentos e nem sentimentos, no fim, as páginas são em menor quantidade. Já escrevi roteiros de uma folha para um curta metragem!

Em média, um longa tem 100 páginas. Em média, um livro tem entre 200 e 400 se não for alta fantasia ou um gênero mais complexo. É por isso que quando acontece uma adaptação cinematográfica, muitas coisas são cortadas do livro para o cinema. Se um roteiro tiver 300 páginas, o filme teria bem mais que 3 horas. Nem todos podemos gravar um The Irishman, né?

Pessoalmente, o meu processo de escrita para os dois tipos de textos segue linhas bem diferentes, apesar de sempre optar por começar por um outilne, ou beat sheet no caso dos roteiros. Os roteiros passam por mais etapas enquanto os livros passam por mais revisões. Tudo isso é do meu ponto de vista e da minha experiência como escritora. Acredito que é diferente para cada pessoa.

E na sua opinião quais são as principais diferenças entre escrever livros e roteiros? Já teve a experiência de escrever nos dois formatos ou em outros formatos de texto? Me conta como foi.