“Tal como no momento de vir ao mundo, ao morrer temos medo do desconhecido. Mas o medo é algo interior que não tem nada que ver com a realidade. Morrer é como nascer: uma mudança apenas.”
A casa dos espíritos é um livro humano. Os vilões tem seus momentos bons e os bonzinhos tem seus momentos cruéis. Todo personagem tem seu lado podre, que podemos descrever como humanos. É como cada um deles age sobre eles que nos faz diferenciar. Tem algo de muito intenso em acompanhar diversas gerações de uma mesma família que chega a se transformar em outra. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Foi o meu primeiro contato com o realismo mágico e eu me encantei pela forma que essa história foi contada. De momentos belos a brutais, reais e fantasiosos, a escrita da Isabel Allende consegue ser fluída e poética ao mesmo tempo, não sei explicar. Só sei que quero ler mais dos seus trabalhos.⠀⠀⠀⠀ Para quem não sabe, realismo mágico é a mistura de realismo com fantasia. Normalmente, é um cenário real com elementos fantásticos que não tem explicação. Eles só existem naquele mundo, tão real quanto a realidade (kkk) e ninguém questiona o porquê. Só é e pronto.
A casa dos espíritos tem um cenário político-social muito forte (até semelhante ao que vivenciamos atualmente) que faz relação com acontecimentos históricos do Chile, com toques biográficos da vida da própria autora. Tudo isso misturado a coisas extraordinárias e indícios da espiritualidade. ⠀⠀⠀⠀
O livro tem uma adaptação cinematográfica que tem a Merly Streep e a Winona Ryder no elenco. Sinceramente, não sei se vou assistir, mas fiquei super curiosa para saber como condensaram tanta história num filme de duas horas e se fizeram isso bem. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Mas, enfim. Eu amei e só me deixou com mais vontade de mergulhar nesse gênero não só de leitura, mas de escrita.
Alguém aí já leu? O que acharam?
Sinopse:
Bestseller internacional considerado pela crítica um clássico da literatura latino-americana, “A Casa dos Espíritos”, romance transcendental de Isabel Allende, conta a saga da turbulenta e numerosa família Trueba, do Chile, com o seu patriarca angustiado e suas mulheres clarividentes. Trata-se de uma narrativa vertiginosa que se alimenta de si mesma e parece tender ao infinito. É no seu desfecho que se alcança o efeito trágico da obra cujo limite não é o esgotamento das narrativas, mas um golpe de Estado que metamorfoseia as narrativas em sangue nas sarjetas e as palavras em silêncio. Num panorama da história chilena que vai de 1905 a 1975, desfilam personagens como Esteban Trueba, latifundiário e senador; Clara, sua mulher clarividente e Alba, sua neta, jovem, socialista e, portanto adversária do patriarca e de seus cúmplices.
Esse texto é fruto de um trabalho que fiz para a aula de Teorias do Cinema no quarto semestre da faculdade de Cinema e Audiovisual. Aborda um dos meus filmes favoritos “Antes do Amanhecer” sob a perspectiva da Teoria Realista, além disso é um texto que me deixou muito orgulhosa e que me deu muito prazer em redigir, refletindo assim na maravilhosa nota que me foi dada por uma professora incrível que tem minha gratidão e é alvo de minha inspiração até hoje.
Não sou nenhuma expert no assunto, não sou crítica de cinema nem nada do tipo, mas a partir de várias pesquisas e leituras, além das aulas anteriormente mencionadas, pude juntar a teoria com o tipo de filme que eu sonho um dia poder fazer.
A Teoria Realista é fortemente retratada na trilogia “Before” e expliquei um pouco dos motivos, tomando como referência o primeiro filme.
Sinopse
Jesse, um jovem americano, e Celine, uma linda francesa, se conhecem no trem para Paris, e começam uma conversa que os leva a fazer uma escala em Viena e ficar um pouco mais juntos, sem imaginar o que o destino os reserva.
O TEXTO
Antes do Amanhecer é o primeiro filme da trilogia “Antes” lançado em 1995, dirigido por Richard Linklater produzido pelos Estados Unidos, Suíça e Áustria. A obra conta a história de Celine e Jesse, interpretados por Julie Delpy e Ethan Hawke, um casal que se conhece em um trem com destino a Paris. Eles entram em uma conversa interessante e, apesar do encontro breve, decidem passar mais tempo juntos. Jesse convence Celine a descer do trem em Viena e passar a noite com ele enquanto aguarda por um voo marcado para a manhã seguinte. Juntos, eles adentram numa cadeia de conversas profundas e questionamentos sobre ciência, sociedade, costumes, a vida de forma geral e abrangente, resultando no florescer de um romance.
O “cinema da alma”
O longa é carregado de propriedades fincadas na teoria realista, defendida por teóricos como André Bazin e Siegfried Kracauer, que prezavam pela transformação da realidade em história. A todo momento, essa é a sensação que o filme transmite ao espectador, a ilusão de tempo real sendo vivido, ou de “verdadeira continuidade” como diria Bazin.
Desde o começo, é mostrada a paisagem pela janela do trem, seguida de planos sequências que acompanham o movimento e os diálogos dos personagens, assim como o uso de planos over the shoulder, sempre incluindo um personagem e a sombra do outro, dando a ideia de que a câmera está ali apenas de um ponto de vista observativo contemplando a conversa dos dois. Era o que Bazin acreditava ser o “cinema da alma” que qualificava o cinema como um reflexo da alma do cineasta, fazendo da câmera uma mera observadora.
PLANOS E LOCAÇÕES
As propriedades técnicas do cinema são utilizadas para apoiar a sua função básica que seria mostrar o mundo ao espectador. O universo apresentado nesse caso é um mundo cotidiano, desde o encontro dos protagonistas no trem até o passeio pela cidade de Viena, sempre dando destaque as paisagens e pontos turístico, utilizando de movimentos de câmera como panorâmica de cima para baixo para localizar os personagens. A Roda Gigante (Riesenrad), o Kleines Café e o museu Albertina são alguns dos lugares que os protagonistas visitam.
PLANOS LONGOS E O ROTEIRO
O roteiro deles é espontâneo. Logo quando Jesse e Celine chegam em Viena, eles entram em um bonde que anda pela cidade. Essa cena é um dos muitos planos sequência que seguem os personagens enquanto o diálogo acontece, um jogo de perguntas que os ajuda a se conhecerem melhor. São mais de cinco minutos seguidos, sem cortes.
A obra conta frequentemente com o uso de planos longos, sejam eles com diálogos ou em silêncio, muitas vezes utilizando o movimento do travelling. Esses planos longos se repetem em diversos momentos, como por exemplo, na cabine de som enquanto ouvem uma música e no parque de diversões enquanto andam e conversam. O filme sempre se utiliza de artifícios para evitar cortes na montagem, um dos principais princípios da teoria realista, defendida por André Bazin.
PROFUNDIDADE DE CAMPO
Outro aspecto descrito pelo teórico é uso da profundidade de campo e uma das cenas que apresenta essa técnica vem logo em seguida a de um plano sequência. Um poeta, artista de rua, para o casal na beira do lago para oferecer os seus serviços. A troca de foco ocorre dos protagonistas para o pedinte, sem utilizar nenhum corte, mudança de plano ou sequer movimento de câmera. Depois disso, Jesse e Celine seguem conversando enquanto o homem escreve o poema.
A CÂMERA QUE OBSERVA
Além disso, algumas técnicas, usadas para manter a sensação de que a câmera está apenas observando o mundo visível e fotografável, também são exploradas. Em alguns momentos a câmera segue os pés dos personagens para só depois mostrar os seus rostos, nesse momento a voz off é utilizada, um artifício que foge do aspecto realista, dessincronizando som e imagem, mas que não destoa da estética por criar a ilusão de acompanhamento dos personagens. Uma técnica similar também é utilizada quando o casal, filmado de costas, se afasta da câmera e a conversa continua em voz baixa até a mudança de plano ocorrer.
Outro momento em que a câmera se torna uma mera presenciadora é quando os personagens saem de cena e a imagem se mantém na mesma locação, criando a ilusão de que a filmagem estaria ocorrendo de qualquer maneira, mesmo se eles não tivessem passado por ali.
Há ainda a cena do restaurante, que segue essa mesma linha de observação do acaso, que apesar de contar com cortes, mostra pessoas aleatórias em seus cotidianos, interagindo — ou não —, comendo, bebendo e etc. Diversos indivíduos são exibidos antes da trama voltar para os protagonistas e dar continuidade a história. Mais uma vez é como se eles só estivessem ali por acaso e a câmera fosse continuar filmando a realidade independentemente de suas presenças.
TRILOGIA BEFORE
É válido mencionar também a existência dos os outros dois filmes da trilogia, Antes do Entardecer e Antes da Meia Noite, cada um com um intervalo de nove anos entre eles, lançados em 2004 e 2013 respectivamente. Essa característica é única e contribui um toque especial ao realismo imposto nessas obras já que os atores continuam interpretando os mesmos personagens só que mais velhos e com novas experiências de vida. Este aspecto, juntamente com os diálogos como peças centrais e fundamentais da obra, e a visão inovadora de um tema tão abordado como o amor, dão a Linklater um estilo único que pode ser associado a Política dos Autores, movimento que pregava pela valorização do estilo e ia de encontro a estrutura do cinema comercial. Os estudos de André Bazin tiveram grande influência nesse movimento, fazendo desse elemento mais um dos aspectos do realismo.
Toda trilogia mantêm o mesmo estilo realista repleto de diálogos, planos sequência, jogo de foco e profundidade de campo, panorâmicas apresentado outras locações, dessa vez em Paris e na Grécia.
A ARTE DO REAL
Antes do Amanhecer é uma obra audiovisual única, composta de elementos que aproximam o espectador do produto, os identificam num mundo verossímil e criam uma relação entre os protagonistas e quem os assiste, com o tempo passado para eles e o tempo real, dando a ilusão do cinema a característica de arte do real.
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